Jogar futebol? Ele era bom, mas não tanto para valer a pena tentar; escritor? Ah..nada disso. Aliviar tristezas em um papel não era bem seu talento para chamar a atenção do grande público; talvez poeta, florista, professor...
Dormiu, mais uma vez sem decidir um segundo caminho a seguir. Nos sonhos, que há tanto o perturbavam, olhava seu rosto descascado no espelho; o cachorro da infância enterrado no quintal. Morto! Todos morriam e ele assistia tudo pelo espelho, e seu rosto derretido, sozinho, com as mesmas roupas gastas, os mesmo olhos sedentos pelo que não tinha e nunca conseguiria. Só o rosto mudava, bruscamente, os arrependimentos, dores, cores e assombros eram os mesmos.
Acordava de sobressalto, sabendo que na noite seguinte o sonho voltaria. O dia mecânico de trabalho e estudo passava tão monótono que incentivava seus pensamentos do plano B: volei, acho que valeria a pena se eu fosse mais alto; médico? Não, não tinha mais tanto tempo...
Mas chegou a hora do almoço e salvou sua vida. No balcão da padaria de sempre, um psicólogo que servia café, depois de escutar suas lamúrias incansavelmente, falou:
"Seu problema, moço, é com as tentativas e não com o tempo!"